sábado, 18 de junho de 2011

CAPITU (Dom Casmurro) x LUISA (O Primo Basílio)



Capitu x Luisa

Nesse primeiro momento vamos fazer um levantamento da construção da personagem feminina principal de cada uma das obras, iniciando com Capitu, personagem da obra de Dom Casmurro:

a)            Como ela é apresentada?
A  principio Capitu é apresentada como uma garota apaixonada, que vive sonhando com o dia em que vai conseguir ficar com seu amado; Uma menina esperta, sabida e sedutora que luta por seus objetivos com características únicas e uma grande força enigmática.
Após o casamento tão esperado e de dias de grande alegria, com supostos fatos é apresentada como uma mulher dissimulada, que vive a enganar o marido. O autor a relata como uma mulher adúltera e fria; se opõe a ouvi-la e julga-a de modo severo e cruel. Esta de uma criança atrevida e apaixonada passa a ser considerada uma mulher traidora.

b)        Quais características físicas são evidenciadas pelo narrador?
O narrador a caracteriza como uma criatura de catorze anos, alta forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos.
c)         Quais características psicológicas o leitor vai construindo à medida de sua apresentação da personagem?
A personagem é caracterizada em todo o decorrer do livro, por vários personagens que a rodeia, segundo José Dias, Capitu carrega com si um ar enigmático, quando diz que a menina tem olhos de cigana oblíqua e dissimulada;
Personagem com o poder de surpreender; pintada pelo autor como leviana e fútil, com ambições por grandeza e luxo.
 Percebe-se que Capitu, era esperta demais para sua idade quando menina, e muito atrevida pela época em que vivia; alguns trechos que isto nos comprovam: “- Se eu fosse rica, você fugia, metia-se no paquete e ia para Europa. (...)” ou “Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem.” Uma garota de catorze anos com idéias de fugir, em uma época onde a mulher é totalmente submissa ao homem e idéias atrevidas já faziam parte da infância de Capitolina, porém a menina era dissimulada e fingia ingenuidade. A menina tornou-se mulher, ainda com jeito de menina, rosto angelical, porém havia nela algo que seduzia como olhos de ressaca: "Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me". Capitu era misteriosa e escondia suas verdadeiras intenções e sentimentos. Era vaidosa e sempre conseguia o que queria
d)        Em que momento a voz da personagem é ouvida? Isso atende a algum propósito?
A voz de Capitu é ouvida no silêncio e no sofrimento, esta criatura sofre a vida toda calada sem poder falar se traiu ou não traiu sem poder se explicar ou desabafar, esta voz da tristeza e da solidão de Capitu cala-se ao ciúme doentio de seu marido. O propósito que isso atende é o fato de causar ao leitor uma dúvida sobre a verdadeira identidade de Capitu, isso faz-nos refletir se ela realmente cometeu o ato do adultério ou foi o ciúme de Bentinho que a levou a cometer esse crime.
Conclui-se que o enigma é Bentinho, não Capitu e as linhas tortuosas de suas memórias e de seu caráter compõem uma charada de difícil decifração. Mas há várias pistas: o paralelo com o drama shakespeariano de Otelo e Desdêmona; a aproximação com a ópera do velho tenor Marcolini (o duo, o trio, e o quatuor); as “semelhanças esquisitas”; as relações “suspeitas” com Escobar no seminário; a lucidez de Capitu e o obscurantivo de Bentinho; a imaginação delirante e perversa do ex-seminarista; o preconceito bíblico de Jesus, filho de Sirach; “não tenha ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti.”. Se a Capitu mulher já estava dentro da Capitu menina, como diz o narrador ”... como a fruta dentro da casca,” também Casmurro, esquisitão, quase homicida e suicida, já estava dentro do menino mimado, inseguro e possessivo.

Agora em relação à Luísa, personagem da obra Primo Basílio.

a)         Como ela é apresentada?
Luiza é apresentada pelo narrador como ”a burguesinha da Baixa” (Lisboa, cidade Baixa): uma senhora sentimental, mal-educada, sem valores espirituais ou senso de justiça. É lírica e romântica, ociosa e ”nervosa pela falta de exercício e disciplina moral.”

b)        Quais características físicas são evidenciadas pelo narrador?
O narrador a descreve como uma mulher de cabelo louro, cabeça pequenina, de perfil bonito, diz que sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras e olhos castanhos muito grandes.

c)         Quais características psicológicas o leitor vai construindo à medida de sua apresentação da personagem?
Luiza é uma mulher gentil, frágil, recatada, dedicada ao marido e ao lar e muito sonhadora; porém por trás desta imagem imaculada, se escondia uma mulher inconseqüente, cheia de curiosidades e desejos a cerca do desconhecido que a fascinava. “Mas Luiza, Luisinha, saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito simpáticos nos seus arranjos, era asseada, alegre como um passarinho, amiga do ninho e das caricias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar a sua casa um encanto serio.”

d)        Em que momento a voz da personagem é ouvida? Isso atende a algum propósito?
A voz de Luiza é ouvida quando ela cria coragem e se entrega nos braços do primo, mesmo mediante da possibilidade de perder o bom casamento e sua reputação; Vai a busca de sua curiosidade, satisfazendo seus desejos carnais em uma paixão avassaladora.
“Não me julgues por isto leviana, nem penses mal de mim, porque eu desejo a tua estima, mas é que nunca deixei de te amar e ao tornar a ver-te, depois daquela estúpida viagem para tão longe, não fui superior ao sentimento que me impelia para ti meu adorado Basílio."

Diferenças e semelhanças entre as duas protagonistas com trechos representativos da construção de cada uma das personagens.
As duas personagens, apesar de fazerem parte de um enredo parecido, onde se situa o adultério, são personalidades distintas, observa-se que Capitu resolvia suas emoções de maneira racional, agia mais com a razão, era destemida, e buscava seus sonhos, certa do que queria, e esperava confiante alcançar. Porém Luiza não tinha uma consistência psicológica, limitando-se a aventurar-se no desconhecido e em um amor que a fazia agir pela emoção, sentimento, longe da razão, ainda se entregando a chantagens posteriores.
Trechos que caracterizam Capitu:
“- Se eu fosse rica, você fugia, metia-se no paquete e ia para Europa.” (...) Como vês, Capitu, aos catorze anos, tinha já idéias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas nos saltinhos. (...)
(...) Não me ocorre imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (...) as ondas que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me puxar-me e tragar-me.
Trechos que caracterizam Luiza:
“E ela mesmo, por fim? Amava-o ela? Concentrou-se, interrogou-se... imaginou casos, circunstâncias: se ele a quisesse levar para longe,para a França,iria?Não! Se por uma desgraça enviuvasse, antevia alguma felicidade casando com ele?Não. Mas então!... e como uma pessoa que destapa um frasco muito tempo guardado, e se admira vendo o perfume evaporado,ficou toda pasmada de encontrar o seu coração vazio.”
“(...) tinha vontade de dizer adeus para sempre, mas não posso meu adorado Basílio! É superior a mim. Sempre te amei, e agora que sou tua, que te pertenço corpo e alma, parece-me que te amo mais, se é possível...”

Nesse texto tratará de compará-las quanto à linguagem, à temática, à caracterização das personagens.
Machado de Assis foca-se na psicologia de seus personagens, para assim decifrar os enigmas da alma, o sofrimento, o pensamento, e retirar deste mundo íntimo um retrato humano e social até hoje insuperável.
Seu estilo é digressivo, paródico, e metalingüístico, e não linear como nos demais realistas.
De modo geral, o tema principal do romance é o ciúme, gerado a partir da dúvida do narrador que foi despertada pela suspeita do adultério. O narrador atormentado pela dúvida obriga-se a escrever essa espécie de livros de memórias para justificar-se diante de si mesmo e diante da sociedade, porém o autor tenta convencer o leitor a acreditar na sua versão dos fatos, ainda que procure convencer a si mesmo.
Por outro lado, Eça de Queirós expõe explicitamente suas características no romance “O Primo Basílio”. A partir de construções sintáticas de acento lusitano consegue atingir uma graça e uma leveza que dão a sua prosa uma espontaneidade só conseguida com muito esforço.
O tema principal do romance é o adultério gerado a partir da traição de Luiza, que sonhava viver uma aventura romântica como nos livros que lê. O autor não procura aprofundar-se na analise do material humano, e detém-se mais no confronto entre a classe oprimida e sofredora dos criados de servir em litígio com os privilégios patronais. É importante destacar que a criada Juliana, personagem secundaria, não constitui símbolo universal da situação das empregadas domesticas: seu caso é pessoal, e como tal nos revela que seu passado é que lhe justifica todo o ódio e o azedume que nutre contra toda a gente, sobre tudo contra o inimigo próximo, a patroa Luiza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, obrigada!